No criado mudo

23:32

Pink Floyd - Wish You Were Here


4:07 am, acordo com a luz da sala acesa. Gabriel observava atento os livros em minha prateleira. Aquela meia luz em seu corpo chamaram minha atenção. Ele era um tipo bonito que arrancava olhares sempre que saíamos.

O Gabe estava passando por um momento bem difícil e decidi acolhê-lo durante uns dias em minha casa. Término do namoro difuso em uma depressão que já durava meses.
O Gabe se tornou um grande amigo. Tínhamos afinidade e dividíamos o mesmo gosto por homens, mulheres e babacas. Sempre ríamos com as nossos desprazeres cotidianos. Nos últimos meses, enquanto ele namorava o Raul, ele demonstrou uma preocupação em relação aos últimos caras com quem eu me relacionei.
- Pô, Marina, que dedinho podre esse seu héim?
Eu pensava… “Mas que culpa tenho eu? Ainda não inventaram um detector de gente escrota.”
Veio de tudo. 1) Caras que queriam muito, depois não queriam nada, e do nada...Boom, querem novamente. Indecisos são os piores tipos. Chega a dar preguiça e náusea só de descrevê-los. 2) Gente que tem medo de se apaixonar [esses eu nem julgo, porque dá medo mesmo. Mas às vezes é bom ir com medo mesmo]. 3) O carinha que é afetuoso, carinhoso, mas aí você descobre que ele tem o coração tão grande, que na mente e na cama dele cabem sempre mais 6, 7, 8… n opções. 4) O machistinha, que tem o ego inflado porque provavelmente tem muita mina otária colocando esse cara em um pedestal, mas que mal sabe a diferença entre um clitóris e uma vulva. 5) E não podemos esquecer deles, que querem conquistar, se infiltrar e manipular seus amigos e familiares por apenas uma foda e que na primeira chance de ser um bosta com você, não mede esforços. Vai me comer ou vai comer meus amigos, meu anjo?
- É Gabe, realmente tem uma maré ruim.
- Filha, tá mais pra um tsunami de tão ruim que tá – ele retrucou – Se eu não fosse tão gay e tão seu amigo, te namoraria. Gostosa, inteligente e sabe sentar.
Rimos.
O Gabe e eu, em uma noite de desventuras, chegamos a ficar juntos. O dia já tinha dado errado de várias formas. E terminar a noite bêbados, com certeza não foi a melhor ideia. Terminou em sexo gostoso e culposo. No outro dia não conseguíamos nos olhar, e passamos semanas sem nos falar. Quando conseguimos nos encarar novamente prometemos que nunca poderia se repetir. “Não sei porque fizemos essa promessa” - pensei o encarando com um pouco de desejo naquele momento.
- Me acompanha no licor? - perguntei muito mal intencionada.
- Às 4:00 da manhã, Marina? O que você tá aprontando?
- Mas o licor é de café – sorri sonsa e danada.
Servi o licor e entre um suspiro e outro de tristeza do Gabe, eu lançava um olhar para ele. A sua melancolia, apesar de deixá-lo triste, o deixava extremamente sexy.
Conversamos sobre os devaneios alheios, canções de noites embriagadas, e versos complexos com notas simples. Estávamos ambos compenetrados com aquela conversa que durava até o resplandecer da manhã anunciada pelos primeiros raios que atingiam o tom mel dos meus olhos.
- Espera 1 minuto - ele pegou a minha câmera que estava sobre a estante e começou a fazer uns cliques daquele momento – Como tu ficas linda quando tá serena.
Isso me provocou um arrepio que no mesmo segundo serviu de inspiração para uma outra foto.
Enquanto ele me mostrava os detalhes dos pelos eriçados na nuca, irradiando para as costas e braços e terminando naqueles poucos que cresciam em minhas coxas, eu o lançava um olhar com um desejo sexual denso, porém cauteloso.
Dei um beijo de boa noite em seus finos lábios e retornei à minha cama.
Abri a gaveta do meu criado mudo e peguei o vibrador que o Gabe havia me dado de presente no último dia dos não namorados [uma tradição antiga de comemoração entre meu círculo de amigos, no dia dos namorados].
Retomei a lembrança daqueles arrepios provocados pela sensação de ver o corpo tão perfeito do meu amigo. A sensação era quente e úmida. Um contraste entre os raios do amanhecer, a umidade da excitação e o calor do meu corpo exalado por aquele desejo que tomava conta de mim.
Vibrava, penetrava, vai, volta, vibra, vibra…uhhhhh, ahhhhññññ
 Que delícia imaginar a gente de novo, que gostosa a sensação de ter e não poder.

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