No criado mudo
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am, acordo com a luz da sala acesa. Gabriel observava atento os
livros em minha prateleira. Aquela meia luz em seu corpo chamaram
minha atenção. Ele era um tipo bonito que arrancava olhares sempre
que saíamos.
O
Gabe estava passando por um momento bem difícil e decidi acolhê-lo
durante uns dias em minha casa. Término do namoro difuso em uma
depressão que já durava meses.
O
Gabe se tornou um grande amigo. Tínhamos afinidade e dividíamos o
mesmo gosto por homens, mulheres e babacas. Sempre ríamos com as
nossos desprazeres cotidianos. Nos últimos meses, enquanto ele
namorava o Raul, ele demonstrou uma preocupação em relação aos
últimos caras com quem eu me relacionei.
- Pô,
Marina, que dedinho podre esse seu héim?
Eu
pensava… “Mas que culpa tenho eu? Ainda não inventaram um
detector de gente escrota.”
Veio
de tudo. 1) Caras que queriam muito, depois não queriam nada, e do
nada...Boom, querem novamente. Indecisos são os piores tipos. Chega
a dar preguiça e náusea só de descrevê-los. 2) Gente que tem medo
de se apaixonar [esses eu nem julgo, porque dá medo mesmo. Mas às
vezes é bom ir com medo mesmo]. 3) O carinha que é afetuoso,
carinhoso, mas aí você descobre que ele tem o coração tão
grande, que na mente e na cama dele cabem sempre mais 6, 7, 8… n
opções. 4) O machistinha, que tem o ego inflado porque
provavelmente tem muita mina otária colocando esse cara em um
pedestal, mas que mal sabe a diferença entre um clitóris e uma
vulva. 5) E não podemos esquecer deles, que querem conquistar, se
infiltrar e manipular seus amigos e familiares por apenas uma foda e
que na primeira chance de ser um bosta com você, não mede esforços.
Vai me comer ou vai comer meus amigos, meu anjo?
- É Gabe, realmente tem uma maré ruim.
- Filha, tá mais pra um tsunami de tão ruim que tá – ele
retrucou – Se eu não fosse tão gay e tão seu amigo, te
namoraria. Gostosa, inteligente e sabe sentar.
Rimos.
O Gabe e eu, em uma noite de desventuras, chegamos a ficar juntos. O
dia já tinha dado errado de várias formas. E terminar a noite
bêbados, com certeza não foi a melhor ideia. Terminou em sexo
gostoso e culposo. No outro dia não conseguíamos nos olhar, e
passamos semanas sem nos falar. Quando conseguimos nos encarar
novamente prometemos que nunca poderia se repetir. “Não sei porque
fizemos essa promessa” - pensei o encarando com um pouco de desejo
naquele momento.
- Me acompanha no licor? - perguntei muito mal intencionada.
- Às 4:00 da manhã, Marina? O que você tá aprontando?
- Mas o licor é de café – sorri sonsa e danada.
Servi o licor e entre um suspiro e outro de tristeza do Gabe, eu
lançava um olhar para ele. A sua melancolia, apesar de deixá-lo
triste, o deixava extremamente sexy.
Conversamos sobre os devaneios alheios, canções de noites
embriagadas, e versos complexos com notas simples. Estávamos ambos
compenetrados com aquela conversa que durava até o resplandecer da
manhã anunciada pelos primeiros raios que atingiam o tom mel dos
meus olhos.
- Espera 1 minuto - ele pegou a minha câmera que estava sobre a
estante e começou a fazer uns cliques daquele momento – Como tu
ficas linda quando tá serena.
Isso me provocou um arrepio que no mesmo segundo serviu de inspiração
para uma outra foto.
Enquanto ele me mostrava os detalhes dos pelos eriçados na nuca,
irradiando para as costas e braços e terminando naqueles poucos que
cresciam em minhas coxas, eu o lançava um olhar com um desejo sexual
denso, porém cauteloso.
Dei um beijo de boa noite em seus finos lábios e retornei à minha
cama.
Abri a gaveta do meu criado mudo e peguei o vibrador que o Gabe havia
me dado de presente no último dia dos não namorados [uma tradição
antiga de comemoração entre meu círculo de amigos, no dia dos
namorados].
Retomei a lembrança daqueles arrepios provocados pela sensação de
ver o corpo tão perfeito do meu amigo. A sensação era quente e
úmida. Um contraste entre os raios do amanhecer, a umidade da
excitação e o calor do meu corpo exalado por aquele desejo que
tomava conta de mim.
Vibrava, penetrava, vai, volta, vibra, vibra…uhhhhh, ahhhhññññ
Que delícia imaginar a gente de novo, que gostosa a sensação de
ter e não poder.
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