Lembro-me muito bem de dois episódios que me fizeram desejar não ter nascido mulher, ou pior, não existir. Essas duas histórias vão entrar para a lista de coisas sobre as quais eu não gostaria de escrever, mas que por fim se tornou uma obrigatoriedade.
Fato 1
Em algum momento de 2014...
Era sábado e uma amiga de Canoas me ligou para convidar para uma edição da Serenata Iluminada, evento público em prol da ocupação de espaços públicos em Porto Alegre.
Essa edição iria ser realizada no Cais do Mauá - Centro. Como não a via há algum tempo e tinha saudades, resolvi aceitar.
Ela foi me buscar por volta das 17h e iríamos tomar um chimas com um grupo de amigos antes do evento. Chegamos ao local e fui apresentada a todos. Entre conversas sobre variados assuntos, todos pareciam conectados e à vontade. Eu me senti assim.
Para quem me conhece, sabe que sou expansiva e deixo o pudor em casa quando estou à vontade.
Ficamos até as 21h e o grupo começou a dispersar. Falei com minha amiga e seu primo já me despedindo para pegar um táxi. Ela insistiu para me levar para casa, mas não queria gerar esse inconveniente.
Foi aí que então, um dos guris que estava no grupo se ofereceu.
- Posso te levar, Isa. Eu vou para aquelas bandas.
No final concordei. Ele era amigo do marido da minha amiga e isso passou uma certa tranquilidade.
Seguimos.
Durante o trajeto ele demonstrou interesse sobre diversas coisas que eu tinha mencionado durante a Serenata. Começou a fazer elogios, que ao longo da conversa tornaram-se forçados. Isso me incomodou um pouco. Muitos elogios, muito esforço, para me dizer coisas que ele achava estar me agradando.
Chegando ao meu destino, me aproximei para me despedir e agradecê-lo. No meu descuido, ele tentou um beijo. Me afastei e levei numa boa.
-Boy desculpa. Não vai rolar.
Ele segurou o meu braço mais forte e perguntou se eu ia me fazer de difícil. Daí parei para pensar que atitude minha tinha sinalizado que eu queria algo. E não veio nada à minha lembrança.
- Tá, olha só. Eu realmente preciso ir. Obrigada pela carona e até mais.
Só ouvi o som da trava do carro e pensei, "Fudeu!"
- Cara, o que você tá fazendo?
-Calma só quero um beijo.
-Você não me ouviu da primeira vez? Não rola.
O telefone tocou. Era minha amiga.
- Isa, já tá em casa?
-Sim, vou descer agora do carro.
- Tá, me avisa quando estiver na cama. Beijo.
E tudo o que ouvi depois foi ele destravando o carro e fazendo ameaças caso eu contasse para alguém. Desci com as pernas trêmulas e um pouco desnorteada e pálida.
O rapaz da portaria perguntou se eu estava bem e a única coisa da qual me lembro é de horas depois estar na minha cama, chorando e com medo.
PS: Só tive coragem de contar isso para alguém uns 5 meses depois do ocorrido. E com os conselhos dessa pessoa, finalmente me reaproximei da minha amiga, da qual tinha me afastado por medo de encontrar esse cara novamente.
___________________________________________________________________