Feliz dia internacional para quem?

01:55

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Lembro-me muito bem de dois episódios que me fizeram desejar não ter nascido mulher, ou pior, não existir. Essas duas histórias vão entrar para a lista de coisas sobre as quais eu não gostaria de escrever, mas que por fim se tornou uma obrigatoriedade.

Fato 1
Em algum momento de 2014...
Era sábado e uma amiga de Canoas me ligou para convidar para uma edição da Serenata Iluminada, evento público em prol da ocupação de espaços públicos em Porto Alegre.
Essa edição iria ser realizada no Cais do Mauá - Centro. Como não a via há algum tempo e tinha saudades, resolvi aceitar.
Ela foi me buscar por volta das 17h e iríamos tomar um chimas com um grupo de amigos antes do evento. Chegamos ao local e fui apresentada a todos. Entre conversas sobre variados assuntos, todos pareciam conectados e à vontade. Eu me senti assim.
Para quem me conhece, sabe que sou expansiva e deixo o pudor em casa quando estou à vontade.
Ficamos até as 21h e o grupo começou a dispersar. Falei com minha amiga e seu primo já me despedindo para pegar um táxi. Ela insistiu para me levar para casa, mas não queria gerar esse inconveniente.
Foi aí que então, um dos guris que estava no grupo se ofereceu.
- Posso te levar, Isa. Eu vou para aquelas bandas.
No final concordei. Ele era amigo do marido da minha amiga e isso passou uma certa tranquilidade.
Seguimos.
Durante o trajeto ele demonstrou interesse sobre diversas coisas que eu tinha mencionado durante a Serenata. Começou a fazer elogios, que ao longo da conversa tornaram-se forçados. Isso me incomodou um pouco. Muitos elogios, muito esforço, para me dizer coisas que ele achava estar me agradando.
Chegando ao meu destino, me aproximei para me despedir e agradecê-lo. No meu descuido, ele tentou um beijo. Me afastei e levei numa boa.
-Boy desculpa. Não vai rolar.
Ele segurou o meu braço mais forte e perguntou se eu ia me fazer de difícil. Daí parei para pensar que atitude minha tinha sinalizado que eu queria algo. E não veio nada à minha lembrança.
- Tá, olha só. Eu realmente preciso ir. Obrigada pela carona e até mais.
Só ouvi o som da trava do carro e pensei, "Fudeu!"
- Cara, o que você tá fazendo?
-Calma só quero um beijo.
-Você não me ouviu da primeira vez? Não rola.
O telefone tocou. Era minha amiga.
- Isa, já tá em casa?
-Sim, vou descer agora do carro.
- Tá, me avisa quando estiver na cama. Beijo.
E tudo o que ouvi depois foi ele destravando o carro e fazendo ameaças caso eu contasse para alguém. Desci com as pernas trêmulas e um pouco desnorteada e pálida.
O rapaz da portaria perguntou se eu estava bem e a única coisa da qual me lembro é de horas depois estar na minha cama, chorando e com medo.

PS: Só tive coragem de contar isso para alguém uns 5 meses depois do ocorrido. E com os conselhos dessa pessoa, finalmente me reaproximei da minha amiga, da qual tinha me afastado por medo de encontrar esse cara novamente.

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Fato 2

Fevereiro de 2017.
- Isa, estou chegando de viagem. Vamos ver um filme?
- Ahhh, não sei. Não vou ser boa companhia hoje, e estou revisando uns contos e mais tarde quero estudar. Vamos deixar para outro dia?
Ele insistentemente pediu:
- Por favor! Eu to bem mal hoje. Não queria ficar sozinho
Acabei me rendendo, pois não consigo ver meus colegas na bad. Respondi que iria e fui trocar de roupa.
- Só uma coisa, boy.
- Diga.
- Sem expectativas, ok?
- Claro.
Esse cara, já conhecia há algum tempo. Adorávamos conversar e compartilhar interesses sobre música, filmes e relacionamentos. Mas para mim não passava disso.
Quando ele voltou a me procurar, depois do fim do meu relacionamento, aceitei sair algumas vezes com ele. Pela amizade. Eu não tinha capacidade emocional e nem física para qualquer coisa que envolvesse afeto com alguém do sexo oposto. Deixei claro tudo isso em mais de uma conversa.
Retomando a história, ele passou lá em casa e seguimos para o apê dele. Chegando lá já fui perguntando por que ele estava mal e o que o aflingia. Ele meio que enrolou e disse que não queria falar. Respeitei.
Porém ele já emendou uma pegunta para saber de mim.
- Como você tá?
- Mal, mas não quero falar sobre o assunto.
Ele abriu um vinho e decidimos então falar de coisas triviais. Apenas para passar o tempo.
Nesse meio tempo, ele fez várias tentativas de abraços e beijos desnecessários. Me levantei. Me incomodei. Respirei.
Pedi para usar o seu computador para revisar uns contos que um amigo escreveu e enquanto isso ele foi preparar um narguile.
Me desconectei e mergulhei nas histórias. Pontuando uma ou outra sugestão. Ele retornou. Ficou curioso sobre o que eu lia, e então falei para ele.
Daí sai o comentário:
- Bahh!!! Fico com muito tesão quando leio o teu blog.
Eu olhei pra ele, dei um sorriso amarelo e só consegui dizer:
- Valeu!
Mas por dentro eu pensava. "Puta merda! Essa galera realmente pensa que eu sou a personagem de todos os meus contos".
Voltei a ler os contos e me desconectei por 3 minutos daquela conversa que começara a me incomodar. Voltei o rosto depois de um tempo para dizer que estava tarde e iria para casa, e não acreditava no que meus olhos se depararam. Ele estava com o pênis para fora se masturbando. Do meu lado.
Me levantei subitamente e me afastei.
-Cara você perdeu a noção?
Tirei meu pen drive e peguei a bolsa.
- Abre a porta. Vou embora.
- Desculpa, Isa. Eu vou parar.
- Não devia nem ter começado. Não adianta. Tu tiveste a noite toda para respeitar meu posicionamento. Falei para não forçar.
Quando o acusei de assédio, ele agiu igual a qualquer assediador e colocou a culpa em mim.
Saí da casa dele e ele me seguiu até em casa (sim, seguiu), me atacando verbalmente dessa vez.
Tive que lidar com a minha impotência e decepção, e com as mensagens de uma pessoa atordoada que não aceitava que era assediador. O bloqueie em tudo, infelizmente só não consigo bloquear essas lembranças que volta e meia me perseguem nas minhas madrugadas.

PS: Nessa imunda sociedade machista (Sim homens. Aceitem que vocês são machistas, que daí quem sabe alguma coisa começa a mudar), nós mulheres não temos direito à liberdade criativa. Ainda mais se for para falar de sexo. E se alguém demonstra esse tipo de liberdade, é porque é vulgar e quer dar pra todo mundo.
Notícias de última hora. Se uma mulher quiser transar, ela vai transar. Não porque você está pedindo, mas porque ela tá com vontade mesmo. Bem simples.
E um recado para as mulheres. Não fiquem umas contras as outras. Decepção maior que ver machismo praticado por homem, é ver mulheres machistas atacando movimentos feministas. Se você é contra, você precisa ler mais para entender o que está por trás da luta diária de uma feminista.
Ilógico mesmo minha gente, é ver mulheres curtindo páginas do tipo "Não sou obrigada a ser feminista". Leiam o conteúdo que é disseminado lá, e vocês vão entender meu ponto.

Feliz dia Internacional, Mulher.















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